20.12.06

Equação

Na guerra fria, uma linha divisória espacial que tornou-se até divisão de tempos, de eras, chamava-se Muro de Berlim. A simbólica Cortina de Ferro que se estendia na divisão entre Leste e Oeste.

O que é o Equador, hoje, quando vemos a divisão Norte e Sul? Seria mais uma linha divisória?

Pensando bem, acho que não. Não há um muro. Há, sim, uma linha imaginária. E a linha também faz parte da área.

O mundo não tem duas meias-luas. Não existe uma cisão representada claramente por uma construção do homem, com o intuito de separar. Equador é o ponto de convergência, a intersecção entre estas regiões que se mostram tão distintas, tão distantes, às vezes. Todos pleiteiam o meio do mundo.

A gente que é daqui, que joga no meio-campo, ora defende, ora ataca... precisa ser e é versátil. O bairrismo típico não é mole como argila, não quebra como barro. É orgulho do chão. É barroco, dicotômico. A fórmula da curandeira é desejada pela high-tech, o canto ritual dos índios é world music, há um pólo industrial manauara, há um pó que vai pra todo o mundo.

Nem todos sabem de nós. Muitos se fecham em seus pequenos mundos. A gente, pra não ser só exótico, tem que se inteirar de tudo. E eu sei o que está rolando por aí. Mas também sei muito de cá. Local e global. Não só eu. Aqui a gente tem que ser assim pra ter voz, pra se fazer entender lá onde nossas notícias não chegam. E a gente só sabe o que acontece por aí, em todo lugar, porque somos iguais. Eco! Equatoriais, eqüidistantes dos trópicos, dos pólos. Somos da linha que faz parte de ambas as partes.

Amargue-nos! Somos do âmago do mundo.

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